Eu posso virar amigo do meu paciente quando a terapia termina?

Existem vários tipos de pacientes. Aqueles que a gente gosta em um lugar mais maternal; aqueles que são mais difíceis. E existem aqueles que a gente pensa: “Se eu tivesse o conhecido fora do consultório, com certeza ia querer ser amigo dele”.
A amizade entre paciente e terapeuta é complexa, pois há amizade, mas num lugar de cuidado e terapêutica, diferente de uma amizade de qualquer outro contexto.
E, muitas vezes, quando o processo terapêutico se encerra e vem a questão: “Será que posso ser amigo dele fora daqui?”. A minha opinião é que NÃO e eu vou explicar o porquê.
Uma pessoa que está bem resolvida pode ter vários amigos. Mas, quantos espaços de cuidado significativos existem por aí? Se me torno amigo do meu paciente, posso estar retirando a chance de ele retornar para esse lugar de cuidado.
Esse paciente pode estar bem agora, mas pode ter uma situação de fragilidade no futuro e precisar novamente do cuidado do seu terapeuta.
Uma vez que se cruze a linha da amizade fora do consultório, a gente não consegue mais voltar para um lugar de espaço terapêutico. Então, eu entendo que preservar essa relação como apenas terapêutica é um jeito de cuidar a longo prazo desse paciente.
A relação terapêutica envolve amizade, carinho, respeito, mas ela é, sobretudo, uma relação de cuidado, onde o terapeuta cuida do seu paciente. E relações de cuidado assim são muito raras.