A vergonha é uma ferida profunda, existencial e que causa impactos na vida do paciente por toda a vida. E de modo geral, essa marca da vergonha (shame) vem de uma relação desastrosa com os pais.
E na vida adulta nunca mais essa pessoa terá a chance de ser completamente prioridade para alguém, porque isso só os pais fazem por ela.
E a terapia pode ser o único espaço onde essa pessoa poderá encontrar alguém que ficará ali com ela, prestando atenção em suas necessidades, em quem ela é, alguém que vai estar ali 100% para ela.
E isso é um privilégio, mas nos traz uma grande responsabilidade. O privilégio é que, nós terapeutas, podemos marcar alguém com amor e essa marca de amor pode transformar a vida da pessoa como um todo.
Mas, nós também podemos falhar e desesperançar essa pessoa. Por isso, é muito importante estarmos alertas, porque é com o terapeuta que o paciente marcado pela vergonha poderá viver a sua primeira experiência de se revelar inteiro para alguém.
E quando esse paciente estiver se revelando diante de você, fique atento para acolhê-lo. Abrace-o em suas dores e, principalmente, seja verdadeiro com ele.
É a sua capacidade de amar esse paciente de verdade que terá um impacto sobre ele. Não de fingir o seu amor, não de fazer uma intervenção mirabolante, mas a sua capacidade de realmente amá-lo em sua dor.
E aprender a amar em um contexto como a clínica não é fácil. É uma linha tênue, mas que precisa ser desenvolvida. Somente um amor genuíno poderá curar uma dor genuína.
Falar sobre amor no consultório é um assunto polêmico entre psicólogos. Alguns discordam e dizem que é possível ajudar o paciente sem amá-lo. E é verdade. É possível ajudar o paciente sem amá-lo, mas não quando se trata de uma marca como a vergonha.
Se você tem dificuldades de oferecer esse espaço de afeto ao seu paciente é importante olhar para você mesmo, sua própria terapia, processo teórico e supervisão.
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